As questões que exigem o conhecimento das figuras de linguagem geralmente estão relacionadas à interpretação e compreensão de um texto, fragmento de texto ou palavra.
Existem várias figuras de linguagem, mas algumas são as mais cobradas em provas de concurso.
Metáfora
Significa empregar uma palavra ou uma expressão em lugar de outra, sem que haja uma relação real, mas em razão do contexto em que a encontramos, mas em virtude da circunstância de que o nosso espírito as associa e depreende entre elas certas semelhanças.
Observação
Se a metáfora se cristalizar, deixará de ser metáfora e passará a ser catacrese (por exemplo: “pé de alface”, “dente de alho”, “perna da mesa”, “braço da cadeira”).
Dica
Toda metáfora é uma espécie de comparação implícita, em que o elemento comparativo não aparece.
˃ I. Seus olhos são como luzes brilhantes.
» Há uma comparação evidente, por meio do emprego da palavra como.
˃ II. Seus olhos são luzes brilhantes.
» Não há mais uma comparação (note a ausência da partícula comparativa), e sim um símile, ou seja, qualidade do que é semelhante.
˃ III. As luzes brilhantes olhavam-me.
» Há a substituição da palavra olhos por luzes brilhantes. Logo, temos a verdadeira metáfora.
Metonímia
Este recurso consiste em empregar um termo no lugar de outro, havendo entre ambos estreita afinidade ou relação de sentido.
Gosto de ler Machado de Assis. (= Gosto de ler a obra literária de Machado de Assis.)
> Autor pela obra.
Moro no campo e como do meu trabalho. (= Moro no campo e como o alimento que produzo.)
>Causa pelo efeito.
Os microfones foram atrás dos jogadores. (= Os repórteres foram atrás dos jogadores.) > Instrumento pela pessoa que utiliza.
A mulher foi chamada para ir às ruas na luta por seus direitos. (= As mulheres foram chamadas, não apenas uma mulher.) > Singular pelo plural.
O homem foi à Lua. (= Alguns astronautas foram à Lua.) > Espécie pelo indivíduo.
Catacrese
Trata-se de uma metáfora que, dado seu uso contínuo, cristalizou-se. A catacrese costuma ocorrer quando, por falta de um termo específico para designar um conceito, toma-se outro
“emprestado”.
Assim, passamos a empregar algumas palavras fora de seu sentido original.
"asa da xícara" "batata da perna"
"maçã do rosto" "pé da mesa"
"braço da cadeira" "coroa do abacaxi"
Antítese
Consiste na utilização de dois termos que contrastam entre si. Ocorre quando há uma aproximação de palavras ou expressões de sentidos opostos.
˃ O corpo é grande e a alma é pequena.
˃ “Quando um muro separa, uma ponte une.”
˃ Felicidade e tristeza tomaram conta de sua alma.
Paradoxo
Consiste numa proposição aparentemente absurda, resultante da união de ideias contraditórias. Na reunião, o funcionário afirmou que o operário quanto mais trabalha mais tem dificuldades econômicas.
Eufemismo
Consiste em empregar uma expressão mais suave, mais nobre ou menos agressiva, para comunicar alguma coisa áspera, desagradável ou chocante.
˃ O prefeito ficou rico por meios ilícitos. (= roubou)
˃ Fernando faltou com a verdade. (= mentiu)
Ironia
Consiste em dizer o contrário do que se pretende ou em satirizar, questionar certo tipo de pensamento com a intenção de ridicularizá-lo, ou ainda em ressaltar algum aspecto passível de crítica.
˃ Como você foi bem na última prova, não tirou nem a nota mínima!
˃ Parece um anjinho aquele menino, briga com todos que estão por perto.
Hipérbole
É a expressão intencionalmente exagerada com o intuito de realçar uma ideia.
˃ Faria isso milhões de vezes se fosse preciso.
Prosopopeia ou Personificação
Consiste em atribuir ações ou qualidades de seres animados a seres inanimados, ou características, humanas a seres não humanos.
˃ As pedras andam vagarosamente.
˃ O vento fazia promessas suaves a quem o escutasse.
Elipse
Consiste na omissão de um ou mais termos numa oração que podem ser facilmente identificados, tanto por elementos gramaticais presentes na própria oração, quanto pelo contexto.
1) A cada um o que é seu. (Deve se dar a cada um o que é seu.)
2) Tenho duas filhas, um filho e amo todos da mesma maneira.
Nesse exemplo, as desinências verbais de tenho e amo permitem-nos a identificação do sujeito em elipse “eu”.
3)Regina estava atrasada. Preferiu ir direto para o trabalho. (Ela, Regina, preferiu ir direto para o trabalho, pois estava atrasada.)
4) As rosas florescem em maio, as margaridas em agosto. (As margaridas florescem em agosto.) Zeugma
Zeugma é uma forma de elipse.
˃ Ele gosta de geografia; eu, de português.
˃ Na casa dela só havia móveis antigos; na minha, só móveis modernos.
Polissíndeto
É uma figura caracterizada pela repetição enfática dos conectivos. Observe o exemplo:
˃ “Deus criou o sol e a lua e as estrelas. E fez o homem e deu-lhe inteligência e fê-lo chefe da
natureza.
Assíndeto
É uma figura caracterizada pela ausência, pela omissão das conjunções coordenativas, resultando no uso de orações coordenadas assindéticas.
˃ “Vim, vi, venci.” (Júlio César)
Pleonasmo
Consiste na repetição de um termo ou ideia, com as mesmas palavras ou não. A finalidade do pleonasmo é realçar a ideia, torná-la mais expressiva.
O problema da violência, é necessário resolvê-lo logo.
Nesta oração, os termos “o problema da violência” e “lo” exercem a mesma função sintática: objeto direto. Assim, temos um pleonasmo do objeto direto, sendo o pronome “lo” classsificado como objeto direto pleonástico.
→ Outro exemplo:
˃ Aos funcionários, não lhes interessam tais medidas.
˃ Aos funcionários, lhes = Objeto Indireto
Nesse caso, há um pleonasmo do objeto indireto, e o pronome “lhes” exerce a função de objeto indireto pleonástico.
» Observação: o pleonasmo só tem razão de ser quando confere mais vigor à frase; caso contrário, torna-se um pleonasmo vicioso. Exemplos:
• Vi aquela cena com meus próprios olhos.
• Vamos subir para cima.
Anáfora
É a repetição de uma ou mais palavras no início de várias frases, criando assim, um efeito de reforço e de coerência. Pela repetição, a palavra ou expressão em causa é posta em destaque, permitindo ao escritor valorizar determinado elemento textual. Os termos anafóricos podem muitas vezes ser substituídos por pronomes relativos. Assim, observe o exemplo abaixo:
Encontrei um amigo ontem. Ele disse-me que te conhecia. O termo ele é um termo anafórico, já que se refere a um amigo anteriormente referido.
Hipérbato / Inversão
É a inversão da estrutura frásica, isto é, a inversão da ordem direta dos termos da oração.
˃ Ao ódio venceu o amor. (Na ordem direta seria: O amor venceu ao ódio.)
˃ Dos meus problemas cuido eu! (Na ordem direta seria: Eu cuido dos meus problemas.)
Aliteração
Consiste na repetição de consoantes como recurso para intensificação do ritmo ou como efeito sonoro significativo. Exemplos:
˃ Três pratos de trigo para três tigres tristes.
˃ O rato roeu a roupa do rei de Roma.
Onomatopeia
Ocorre quando se tentam reproduzir na forma de palavras os sons da realidade.
˃ Os sinos faziam blem, blem, blem, blem.
˃ Miau, miau. (Som emitido pelo gato)
˃ Tic-tac, tic-tac fazia o relógio da sala de jantar.
˃ Cócórócócó, fez o galo às seis da manhã.
Funções da Linguagem
Função Referencial ou Denotativa
Palavra-chave: referente
Transmite uma informação objetiva sobre a realidade. Dá prioridade aos dados concretos, fatos e circunstâncias. É a linguagem característica das notícias de jornal, do discurso científico e de qualquer exposição de conceitos. Coloca em evidência o referente, ou seja, o assunto ao qual a mensagem se refere.
Função Expressiva ou Emotiva
Palavra-chave: emissor
Reflete o estado de ânimo do emissor, os seus sentimentos e emoções. Um dos indicadores da função emotiva num texto é a presença de interjeições e de alguns sinais de pontuação, como as reticências e o ponto de exclamação.
˃ Ah, que coisa boa!
˃ Tenho um pouco de medo...
Função Apelativa ou Conativa
Palavra-chave: receptor
Seu objetivo é influenciar o receptor ou destinatário, com a intenção de convencê-lo de algo ou
dar-lhe ordens. Como o emissor se dirige ao receptor, é comum o uso de tu e você, ou o nome da
pessoa, além dos vocativos e imperativo. É a linguagem usada nos discursos, sermões e propagandas
que se dirigem diretamente ao consumidor.
˃ Você já tomou banho?
˃ Não perca esta promoção!
Função Poética
Palavra-chave: mensagem
É aquela que põe em evidência a forma da mensagem, ou seja, que se preocupa mais em como
dizer do que com o que dizer. O escritor, por exemplo, procura fugir das formas habituais e expressão, buscando deixar mais bonito o seu texto, surpreender, fugir da lógica ou provocar um efeito humorístico.
Embora seja própria da obra literária, a função poética não é exclusiva da poesia nem da literatura em geral, pois se encontra com frequência nas expressões cotidianas de valor metafórico e na publicidade.
˃ Em tempos de turbulência, voe com fundos de renda fixa.
˃ (Texto publicitário)
Função Fática
Palavra-chave: canal
Tem por finalidade estabelecer, prolongar ou interromper a comunicação. É aplicada em situações em que o mais importante não é o que se fala, nem como se fala, mas sim o contato entre o emissor e o receptor. Fática quer dizer “relativa ao fato”, ao que está ocorrendo. Aparece geralmente nas fórmulas de cumprimento: Como vai, tudo certo?; ou em expressões que confirmam que alguém está ouvindo ou está sendo ouvido: sim, claro, sem dúvida, entende?, não é mesmo? É a linguagem das falas telefônicas, saudações e similares.
˃ Alô? Está me ouvindo?
Função Metalinguística
Palavra-chave: código
Esta função refere-se à metalinguagem, que ocorre quando o emissor explica um código usando o próprio código. É a poesia que fala da poesia, da sua função e do poeta, um texto que comenta outro texto. As gramáticas e os dicionários são exemplos de metalinguagem.
˃ Frase é qualquer enunciado linguístico com sentido acabado.
EXERCÍCIOS
Notícia de Jornal
(Fernando Sabino)
Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, 30 anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante 72 horas, para finalmente morrer de fome.
Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos e comentários, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome.
Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era da alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome.
O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Anatômico sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome.
Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua.
Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um
proscrito, um bicho, uma coisa - não é um homem. E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum.
Passam, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão.
Não é da alçada do comissário, nem do hospital, nem da radiopatrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.
E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louve-se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.
E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição, tombado em plena rua, no centro mais movimentado da cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, um homem morreu de fome.
(Disponível em http://www.fotolog.com.br/spokesman_/70276847/: Acesso em 10/09/14)
01. Em “Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens.” (7º§), pode-se reconhecer a seguinte figura de linguagem:
a) Metonímia
b) Paradoxo
c) Antítese
d) Ironia
e) Eufemismo
Notícia de Jornal
(Fernando Sabino)
Leio no jornal a notícia de que um homem morreu de fome. Um homem de cor branca, 30 anos presumíveis, pobremente vestido, morreu de fome, sem socorros, em pleno centro da cidade, permanecendo deitado na calçada durante 72 horas, para finalmente morrer de fome.
Morreu de fome. Depois de insistentes pedidos e comentários, uma ambulância do Pronto Socorro e uma radiopatrulha foram ao local, mas regressaram sem prestar auxílio ao homem, que acabou morrendo de fome.
Um homem que morreu de fome. O comissário de plantão (um homem) afirmou que o caso (morrer de fome) era da alçada da Delegacia de Mendicância, especialista em homens que morrem de fome. E o homem morreu de fome.
O corpo do homem que morreu de fome foi recolhido ao Instituto Anatômico sem ser identificado. Nada se sabe dele, senão que morreu de fome.
Um homem morre de fome em plena rua, entre centenas de passantes. Um homem caído na rua. Um bêbado. Um vagabundo. Um mendigo, um anormal, um tarado, um pária, um marginal, um proscrito, um bicho, uma coisa - não é um homem. E os outros homens cumprem seu destino de passantes, que é o de passar. Durante setenta e duas horas todos passam, ao lado do homem que morre de fome, com um olhar de nojo, desdém, inquietação e até mesmo piedade, ou sem olhar nenhum. Passam, e o homem continua morrendo de fome, sozinho, isolado, perdido entre os homens, sem socorro e sem perdão.
Não é da alçada do comissário, nem do hospital, nem da radiopatrulha, por que haveria de ser da minha alçada? Que é que eu tenho com isso? Deixa o homem morrer de fome.
E o homem morre de fome. De trinta anos presumíveis. Pobremente vestido. Morreu de fome, diz o jornal. Louve-se a insistência dos comerciantes, que jamais morrerão de fome, pedindo providências às autoridades. As autoridades nada mais puderam fazer senão remover o corpo do homem. Deviam deixar que apodrecesse, para escarmento dos outros homens. Nada mais puderam fazer senão esperar que morresse de fome.
E ontem, depois de setenta e duas horas de inanição, tombado em plena rua, no centro mais movimentado da cidade do Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, um homem morreu de fome. (Disponível em http://www.fotolog.com.br/spokesman_/70276847/: Acesso em 10/09/14)
Texto II
O Bicho
(Manuel Bandeira)
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
(Disponível em: http://www.casadobruxo.com.br/poesia/m/bicho.htm, acesso em 10/09/2014)
02. Tanto na crônica (Texto I) quanto no poema (Texto II) os enunciadores não se limitam a presentar
o fato; eles também buscam causar comoção em seus leitores. A função de linguagem que melhor
retrata esse objetivo e os trechos que podem representar esse aspecto são, respectivamente:
a) Função metalinguística; “Morreu de Fome” (texto I) e “ Meu Deus” (texto II).
b) )Função fática; “Leio no jornal” (texto I ) e “Vi ontem um bicho” (texto II).
c) Função poética; “Leio no jornal” (texto I ) e “Vi ontem um bicho” (texto II).
d) Função conativa, “Morreu de Fome” (texto I) e “ Meu Deus” (texto II).
e) Função referencial; “Um homem de cor branca” (texto I); Na imundície do pátio””
A violência não é uma fantasia
A violência nasce conosco. Faz parte da nossa bagagem psíquica, do nosso DNA, assim como a capacidade de cuidar, de ser solidário e pacífico. Somos esse novelo de dons. O equilíbrio ou desequilíbrio depende do ambiente familiar, educação, exemplos, tendência pessoal, circunstâncias concretas, algumas escolhas individuais. Vivemos numa época violenta. Temos medo de sair às ruas, temos medo de sair à noite, temos medo de ficar em casa sem grades, alarmes e câmeras, ou bons e treinados porteiros. As notícias da imprensa nos dão medo em geral. Não são medos fantasiosos: são reais. E, se não tivermos nenhum medo, estaremos sendo perigosamente alienados. A segurança, como tantas coisas, parece ter fugido ao controle de instituições e autoridades.
Nestes dias começamos a ter medo também dentro dos shoppings, onde, aliás, há mais tempo aqui e ali vêm ocorrendo furtos, às vezes assaltos, raramente noticiados. O que preocupa são movimentos adolescentes que reivindicam acesso aos shoppings para seus grupos em geral organizados na Internet.
(...)
(Revista Veja. Editora ABRIL. Edição 2358 - ano 47 - nº 5. 29 de janeiro de 2014. Por Lya Luft - p. 20)
03. A linguagem por meio da qual interagimos no nosso dia a dia pode revestir-se de nuances as
mais diversas: pode apresentar-se em sentido literal, figurado, metafórico. A opção em cujo
trecho utilizou-se linguagem metafórica é
a) O equilíbrio ou desequilíbrio depende do ambiente familiar.
b) Temos medo de sair às ruas.
c) Nestes dias começamos a ter medo também dentro dos shoppings.
d) Somos esse novelo de dons.
e) As notícias da imprensa nos dão medo em geral.
GABARITO
01 - D
02 - D
03 - D